Negociação como ferramenta estratégica: MPSC realiza encontro nacional sobre práticas de autocomposição
Evento virtual reúne mais de 200 participantes para debater técnicas aplicadas ao acordo de não persecução civil.
Mais de 200 integrantes dos Ministérios Públicos de todo o país participaram, nesta terça-feira (16/9), do segundo encontro do ciclo nacional "Soluções dialogadas - Práticas de autocomposição no Ministério Público". O encontro virtual foi promovido pelo Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (CEAF) e pelo Núcleo Permanente de Incentivo à Autocomposição (NUPIA), com foco em técnicas de negociação aplicadas ao acordo de não persecução civil.
A abertura foi conduzida pelo Coordenador do NUPIA, Marco Aurélio Morosini, que deu as boas-vindas aos participantes e passou a palavra ao Coordenador do Centro de Apoio Operacional da Moralidade Administrativa do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), Promotor de Justiça Márcio Vieira. Em sua fala, Vieira destacou a relevância do tema diante das recentes alterações legislativas, como a Lei n. 14.230/2021, que reformou a Lei de Improbidade Administrativa, e a Resolução n. 206/2025 do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que reforçou os parâmetros materiais e procedimentais para acordos no âmbito da improbidade.
Logo em seguida, com uma abordagem prática e aprofundada, o Promotor de Justiça Landolfo Andrade de Souza, do Ministério Público de São Paulo, conduziu a capacitação, que teve como tema central as técnicas de negociação no acordo de não persecução civil. Além da atuação no MP, Landolfo é Professor de Interesses Difusos e Coletivos nas Escolas dos Ministérios Públicos de São Paulo e Santa Catarina e integra o corpo docente do curso G7 Jurídico.
Durante sua exposição, o palestrante contextualizou a evolução da autocomposição no campo da improbidade administrativa, desde a vedação expressa a qualquer tipo de acordo até a consolidação de práticas autorizadas por resoluções e leis recentes. Segundo ele, a negociação deixou de ser uma exceção e passou a ocupar um papel central na resolução de conflitos jurídicos.
"Negociar é uma habilidade que se aprende negociando. Não existe fórmula mágica, mas existem princípios que ajudam a construir soluções eficazes. A negociação não é exclusiva do campo jurídico. Ela está presente em todas as esferas da vida: familiar, profissional, empresarial e até em conflitos internacionais. O que muda é o método", enfatizou.
Landolfo apresentou, então, o modelo de negociação desenvolvido pela Universidade de Harvard, utilizado por ele e seus colegas do Ministério Público em Santos. O método é aplicado em contextos diversos, como acordos de desarmamento na Guerra Fria, mediações empresariais e conflitos civis. Segundo o Promotor de Justiça, a abordagem é baseada em quatro princípios fundamentais:
pessoas: separar as pessoas do problema, sendo firme com o problema e gentil com as partes envolvidas;Ao detalhar cada um dos princípios, Landolfo reforçou que o modelo de Harvard ensina a ser duro com o problema e gentil com as pessoas. "O foco não é o corrupto, mas o ato de corrupção que ele praticou. Separar as pessoas do problema, identificar os interesses reais, criar opções de ganhos mútuos e insistir em critérios objetivos são os pilares de uma negociação bem-sucedida", comentou.
O Promotor de Justiça também abordou os perfis típicos de negociadores - o afável, o áspero e o baseado em princípios -, destacando que este último é o mais eficaz para alcançar resultados sensatos e sustentáveis. Segundo ele, negociar é uma habilidade que se desenvolve com prática, e não há "receita de bolo".
A apresentação incluiu, ainda, as cinco fases da negociação, com ênfase na etapa de planejamento, que envolve a coleta de informações técnicas, a definição de interesses e a elaboração de um "menu de barganha".
Por fim, Landolfo ressaltou a importância de chegar às tratativas com argumentos sólidos, como pareceres técnicos, jurisprudência e dados sobre o investigado, além de considerar sempre a melhor alternativa sem acordo. "A melhor alternativa sem acordo precisa estar clara desde o início. Ela funciona como uma âncora psicológica e fortalece a posição do negociador", concluiu.