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Com uma abordagem inovadora para combater a evasão escolar e preparar adolescentes para o mercado de trabalho, o projeto "Aprender a Empreender", da 2ª Promotoria de Justiça de São Lourenço do Oeste, foi reconhecido como finalista da 3ª edição do Prêmio José Daura. Idealizado pelo Promotor de Justiça Mateus Minuzzi Freire da Fontoura Gomes, o projeto já impactou cerca de 900 estudantes das redes municipal e estadual de ensino, envolvendo 38 turmas do 8º e 9º anos e três turmas do 1º ano do Ensino Médio.

"A iniciativa nasceu da necessidade de enfrentar o aumento nos índices de evasão escolar no município. Diante da ineficácia das punições judiciais aos pais como forma de garantir a presença dos alunos nas escolas, o projeto buscou ouvir os estudantes para entender o desinteresse. A resposta foi quase unânime: a dificuldade de relacionar o conteúdo escolar com a vida profissional futura", explica o Promotor de Justiça.

Para que o projeto fosse implementado, o Município assinou um termo de ajustamento de conduta (TAC) com o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), diante da falta de um programa específico para lidar com a evasão escolar de modo preventivo. Além de incentivar a permanência dos adolescentes na escola, o Aprender a Empreender tem o objetivo de capacitá-los e inseri-los no mercado de trabalho. 

Com o TAC, durante o ano letivo de 2024, os alunos receberam uma aula por semana sobre empreendedorismo. A aula foi ministrada por um professor e contou também com o auxílio das instituições e empresas parceiras. Além da aula semanal, os alunos também participaram de atividades em órgãos externos, como o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), e de dinâmicas dentro das instalações das próprias empresas parceiras. Por fim, os alunos que tiverem interesse também ganharam a primeira oportunidade como jovem aprendiz nas empresas parcerias ou até mesmo receberem apoio para iniciar o seu primeiro negócio.

Resultados

Com o apoio de 39 parceiros externos, sendo 34 empresas privadas e cinco públicas, o "Aprender a Empreender" ampliou as oportunidades para os jovens da região, transformando a realidade educacional e profissional local. O projeto já atingiu 38 turmas das escolas das redes municipal e estadual de ensino, sensibilizando quase 900 alunos. Ao todo, 34 empresas participam da iniciativa, inclusive multinacionais. Foram criadas 43 novas vagas de jovem aprendiz no município, e 14 alunos já foram contratados neste ano letivo.
O impacto positivo do projeto vai além dos números. Seis das nove escolas participantes registraram zero casos de evasão escolar após sua implementação. Além disso, a iniciativa fortaleceu valores como respeito aos professores e comportamento adequado dentro e fora do ambiente escolar. "O projeto não só promoveu a permanência dos alunos nas escolas, mas também abriu portas para um futuro mais promissor", destacou o promotor Mateus Minuzzi.
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Alunos empregados e empreendedores 

Maria Eduarda, de 15 anos, fez parte do Aprender a empreender em 2023, no último ano de ensino fundamental. Ela relata que, no ano passado não conseguiu trabalhar por conta de problemas familiares, mas que o projeto foi importante e a auxiliou a abrir o próprio espaço de dança.  
"Minha família é tradicionalista e eu olhei de uma forma diferente para o meu dom de dançar. Eu fui me descobrindo e resolvi abrir uma sala de dança. Hoje, eu sou professora e isso ocorreu por meio do projeto Aprender a empreender. Ensino, claro, tudo com supervisão de um responsável. No começo, eu vi esse projeto como uma coisa entediante, porque quando você está na escola meio que você se desinteressa das coisas. Mas isso foi passando. Conforme passaram os meses, eu fui vendo como esse projeto estava fazendo mudança na minha vida e hoje em dia eu sou o que sou através dele", enfatizou.

"O projeto não só nos ensina como nos integrarmos no mercado de trabalho, mas também a dar mais valor para a escola. Aprendemos sobre comportamento, como nós devemos tratar os professores com respeito. Se você não é um bom aluno na escola, quem dirá como funcionário em uma empresa", destacou o estudante Pedro Lucas de Almeida Barros.

Para Vitor Suzin e Renan Alves Ribeiro a participação do projeto representa o começo de uma nova fase. "Fico muito feliz por ter sido contratado. Uma oportunidade única pelo projeto Aprender a Empreender para ter uma financeira melhor e poder ajudar minha família", relatou Vitor Suzin, o mais novo jovem aprendiz da Indústria de aço Tévere. 

"Oportunidades como essa são únicas para nós alunos.  Quem sabe, por algum motivo, talvez não teríamos, se não tivéssemos participado do projeto, mas devido ao nosso desempenho pudemos comemorar a conquista do primeiro emprego", descreveu Renan Alves Ribeiro, que foi contratado por uma rede de supermercados.

Empresas e instituições parceiras 

Raquel Sebben, responsável pelo RH da indústria de aço Tévere, que integra o projeto desde 2023, conta que a empresa tem na equipe quatro menores aprendizes que foram contratados por meio do Aprender a empreender e trabalham em diferentes áreas. 

" É o começo de uma vida profissional. O começo de uma vida social e isso traz benefício para todo mundo. Percebemos muito amor envolvido nessa iniciativa. Quando temos determinação, engajamento e paixão pelo que fazemos, é muito mais fácil as coisas darem certo. Então, nós embarcamos junto com eles, e está sendo muito prazeroso poder compartilhar desse crescimento, dessa expansão do projeto", disse. 

"A gente acredita que trazer para dentro de um currículo escolar oficinas, atividades de integração, realmente cativa o estudante, e faz com que o estudante fique engajado, avance, permaneça na escola e consiga então trilhar um futuro promissor", relatou Daniel Fernando Carossi, Diretor do IFSC de São Lourenço do Oeste.

Para Nelson Junior Lovera, empresário que passará a integrar o projeto em 2025, a grande importância do projeto está em "trazer os adolescentes para participar com o empresário e os colaboradores da empresa, estar dentro de uma empresa para ver como realmente funciona. Juntar a teoria que eles tem com a prática que nós temos". 

Para integrar o projeto, a Caunae Horbach, residente em Direito da Promotoria de Justiça explica que o contato com as empresas é realizado pela coordenadora do projeto, Rosi Mari Brandalize de Miranda. "Ou também próprias empresas podem nos procurar para firmar a parceria. Após, as empresas apresentam os conteúdos necessários para ser um bom colaborador ou as capacidades necessárias para ser um bom empresário, e passamos a preparar os estudantes", enfatizou.

Origem do projeto

O projeto surgiu na Escola Básica Municipal São Lourenço, em 2023, por meio da professora Rosi Mari Brandalize de Miranda, por ter sido verificado que havia muita evasão escolar e que o programa seria uma forma de amenizar este problema. Porém, quando ficou sabendo da iniciativa, o Promotor de Justiça Mateus Minuzzi Freire da Fontoura Gomes buscou formas para ampliar o programa a todas as escolas da rede pública.  "Conhecemos o projeto, conversamos com a professora e, então, propomos o TAC com o Município para pegar uma ideia boa e expandir. 

O primeiro ano já foi um sucesso. A aceitação é muito grande e o número de parceiros aumentou, tudo com o foco de trazer o adolescente de volta para a escola, criar esse interesse e mudar a vida deles", disse. A professora Rosi Mari Brandalize de Miranda detalha que o programa deu bons resultados na EBM São Lourenço e que os alunos mudaram o comportamento. "Eles começaram a se interessar mais pela escola. Em abril de 2023, uma representante da empresa Tevere, a primeira parceira do projeto, veio até a escola, fez entrevistas e já contratou três alunos.

Hoje, em 2024, eles continuam trabalhando como menores aprendizes. Acredito fielmente que esse projeto vai muito longe. Estamos muito confiantes", acrescentou. O secretário de Educação de São Lourenço do Oeste, Alex Cledir Tardetti, acredita que ampliação do projeto para toda rede de ensino foi muito benéfica. "A escola deve sempre ir ao encontro de algumas necessidades dos estudantes. 

Às vezes, é necessário mudar a forma, por vezes até ociosa de trabalhar, e trazer o nosso público-alvo, nossos alunos, para dentro de um projeto que saia das quatro paredes da escola e traga resultados", disse. Para Jhullian Diniz Fiori, professor do projeto, é importante incentivar os alunos a terem um motivo para frequentar as aulas. "Quando você dá um sentido de ir para escola, que você sai um pouco do livro didático, você sai dos conteúdos ou que simplesmente você consegue adaptar o que você está trabalhando, é uma forma de fazer com que tudo isso tenha sentido", ressaltou.

Prêmio José Daura

O projeto está entre os cinco finalistas do Prêmio José Daura, que reconhece práticas inovadoras no MPSC. O prêmio homenageia José Daura, ex-Procurador-Geral de Justiça e Promotor responsável por casos emblemáticos, como o linchamento ocorrido em Chapecó em 1950. A cerimônia de premiação está prevista para 12 de dezembro, durante as comemorações pelo Dia do Ministério Público.