As Entrelinhas do Autismo
Para o Coordenador do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude, Promotor de Justiça João Luiz de Carvalho Botega, o estigma em torno da deficiência ainda atrapalha a integração completa de crianças e adolescentes com o TEA. " A campanha As Entrelinhas do Autismo foi idealizada, justamente, para dirimir algumas dúvidas e, sobretudo, quebrar algumas barreiras e preconceitos que essa população, infelizmente, ainda sofre. Sabemos hoje da importância da intervenção precoce, ainda na primeira infância, para o diagnóstico desses casos. Mas tão importante quanto isso é que as pessoas que manifestam essa condição sejam acolhidas e aceitas na sociedade, recebendo acompanhamento de saúde, de educação, de assistência social e outras políticas públicas a que têm direito e a que necessitam", explica Botega.
Por isso, é importante que familiares, professores e profissionais de saúde tenham informações disponíveis para atender pessoas com TEA e estimular seu pleno desenvolvimento. Por meio da campanha, o MPSC objetiva conscientizar esses grupos, mostrando que o transtorno não é uma doença, mas uma condição humana que faz parte da identidade das pessoas autistas. Não existe "o autista", mas muitas formas de ser autista, assim como os neurotípicos são diferentes uns dos outros. Portanto, deve-se primar pelo respeito e pela compreensão dos indivíduos com autismo como de fato são, e dar voz a eles, e não buscar que sejam menos autistas, já que o espectro faz parte de sua identidade humana.
O próprio slogan, "mude de perspectiva", busca enfatizar que é a sociedade que deve reavaliar o modo como compreende essa experiência de vida, entendendo-a como valorosa e resultado de que todos são verdadeiramente humanos e diversos.
Renata Susan Pereira é psicóloga e mãe do Heitor, uma criança com autismo. Ela explica que ainda existe muita desinformação sobre a condição, o que pode levar ao preconceito. "É comum autistas ouvirem a frase `nossa, mas você não parece autista'. Essa frase não é um elogio, porque ser autista não é vergonhoso", explica Renata. "O que um autista quer não é parecer menos autista. O que um autista quer é ser compreendido no seu modo de ser, ser respeitado e poder viver em sociedade como qualquer cidadão", defende.
Para ampliar essa discussão, a ainda pretende levar o assunto para famílias e escolas, incluindo parentes e amigos de pessoas com o espectro no debate. Entre as ações previstas neste primeiro momento estão postagens nas redes sociais, vídeos e entrevistas. Já na segunda etapa da campanha, serão produzidos também manuais, cartilhas e guias para orientar o trabalho das promotorias e dos profissionais de educação, além de ajudar pais e responsáveis a entenderem melhor a condição, tudo com o objetivo de gerar debates mais qualificados na sociedade acerca do tema.
Para Matheus Mattos Corrêa, um dos jovens com autismo que está participando da campanha, a experiência está sendo muito interessante. "Me sinto honrado em participar dessa campanha porque conscientiza as pessoas sobre o autismo e o quanto elas são importantes na sociedade", fala Matheus.